sábado, 26 de maio de 2012

A batalha diária de um ermitão



Um ermitão, uma destas pessoas que por amor a Deus se refugiam na solidão do deserto, do bosque ou das montanhas para dedicar-se somente à oração e penitência, muitas vezes reclamava que tinha muito que fazer.

Lhe perguntaram como era possível que em sua solidão tivesse tanto trabalho.

- Tenho que domar dois falcões, treinar duas águias, manter quietos dois coelhos, vigiar uma serpente, carregar um asno e sujeitar um leão.

- Não vemos nenhum animal perto do local onde vives. Onde estão estes animais?

O ermitão explicou: - Estes animais todos os homens têm, vocês também...

Os dois falcões se lançam sobre tudo o que aparece, seja bom ou mau. Tenho que domá-los para que só fixem sobre uma boa presa. São meus olhos.

As duas águias ferem e destroçam com suas garras. Tenho que treiná-las para que sejam úteis e ajudem sem ferir. São minhas mãos.

Os dois coelhos querem ir onde lhes agrada, fugindo dos demais e esquivando-se das dificuldades. Tenho que ensinar-lhes a ficarem quietos mesmo que seja penoso, problemático ou desagradável. São meus pés.

O mais difícil é vigiar a serpente, apesar dela estar presa numa jaula de 32 barras. Está sempre pronta para morder e envenenar os que a rodeiam, mal se abre a jaula. Se não a vigio de perto, causa danos. É minha língua.

O burro é muito obstinado, não quer cumprir com suas obrigações. Alega estar cansado e se recusa a transportar a carga de cada dia. É meu corpo.

Finalmente, preciso domar o leão. Quer ser o rei, o mais importante; é vaidoso e orgulhoso. É meu coração.

Portanto, há muito que fazer...