quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Não me roubem ...




Shalom Padre Elimar Gomes

Não me roubem as asas, o sonho, a torre dos meus olhos que peremptoriamente se dirigem paro o alto.

Não me roubem a capacidade de acreditar, de confiar, de crer que amanhã será melhor, que o dia tem um ocaso que é apenas a ante-sala do amanhã resplandecente.

Não me roubem o direito de acreditar no meu semelhante, nas noites enluaradas que acalentam as violas e fazem reverberar as vozes dos poetas e dos profetas, esta dupla que faz histórias as quais, o homem não pode deixar de ouvir sob pena de perder a alma.

Não me roubem o tudo.
O tudo que me liga à vida e traz oxigênio existencial para chutar o pau da barraca e, amanhã, erguê-lo novamente. Chega de desertos; eu quero colo, aconchego, mala vazia, quero destruir as rotas de fuga e chegar lá, no lugar, sem roubo de novo.

Acima de tudo, não me roubem a alma.

Não me roubem o sabor, o prazer, o gostinho esquisito que traz a sede do amanhã..

Não. Não me roubem o direito de viver, viver para ver os meus filhos crescerem, meus cabelos embranquecerem, minha pele enrugar,meus passos serem trôpegos,meus conselhos mais sábios, minha voz mais frágil, mas, minha profecia mais ungida.

Quero viver cada momentos como falou Vinicius, momentos de felicidades, de ternuras, de convicções divinas e paixões humanas; e, ai, eu quero derramar meu coração, esparramar seu cântico e rir meu riso.

Não. Não me roubem.

Não me roubem os amigos, os anos vencidos, a saudade jamais esquecida, da bola e do campo de areia onde agente jogava, brigava, vencia, perdia e, celebrava com um abraço anunciando: sábado tem mais.

Eu ainda quero alguém para o que der e vier comigo.

Não. Não me roubem a dor.

A dor da partida, da mão estendida e não compreendida.
A dor que atesta estar vivo, sem lepras no espírito.
Quero aprender com ela,embarcar nos seus braços até, que ela me jogue na areia do mar de onde sairei com o coração abrasado e com braços estendidos, com o rosto molhado, clamando: Pai, tem misericórdia de mim!

Não me roubem a misericórdia.

A capacidade de sentir a dor dos miseráveis, de olhar para o meu ofensor lhe oferecendo uma Segunda chance, um ombro versátil e flexível às suas necessidades.

Não, Não me roubem as marcas da vida, que ficaram tatuadas na alma e que atestam que estou em um processo pedagógico onde o Mestre ainda é capaz de me erguer quando caio, ainda abraça, acaricia, regozija-se na minha verdade.

E, por fim, não me roubem a capacidade de amar.
Fui desenhado para tal fim.
Minha estrutura sobrevive esse amor.
Ele é minha luz na escuridão do ódio gratuito que se renova à cada dia nos corações dos desalentados.

Não. Não me roubem.

Não, Não me roubem o desejo de uma criança, com palavras inseguras, que insiste em viver em mim e que se apaixonou pela vida. Ainda quero brincar, abraçar, acariciar,cantar, perdoar e esquecer.

Por favor não me roubem esta vida.

Nenhum comentário: