quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O tom da nossa vida- fragmentos





...Em que tom a queremos viver? (Não perguntei como somos condenados a viver}
Em meios-tons melancólicos, em tons mais claros, com pressa e superficialidade ou alternando algria e prazer com momentos profundos e reflexivos.
Apenas correndo pela superfície ou de vez em quando mergulhando em águas profundas.
Distraídos pelo barulho em torno ou escutando vozes nas pausas e nos silêncios- a nossa voz, a voz do outro.
Nosso tom será o de suspeita e desconfiança ou serão varandas abrindo para a paisagem além de qualquer limite?
Parte disso depende de nós.
No instrumento de nossa orquestração somos-junto com fatalidades, genética e acaso- os afinadores e os artistas. Somos, antes disso, construtores do nosso instrumento. O que torna a lida mais difícil, porém muito mais instigante.

...Penso no curso de nossa existência precisamos aprender essa desacreditada coisa chamada "ser feliz".(Vejo sobrancelhas arqueando-se ironicamente diante dessa minha romântica afirmação).
Cada um em seu caminho e com suas singularidades.

...Na arte como nas relações humanas, que incluem os diversos laços amorosos, nadamos contra a correnteza. Tentamos o impossível: a fusão total não existe, o partilhamento completo é inexequivel. o essencial nem pode ser compartilhado: é descoberta e susto. glória ou danação de cada um - solitariamente.
Porém numa conversa ou num silêncio, num olhar,num gesto de amor como numa obra de arte, pode-se abrir uma fresta. Espiarão juntos, artista e seu espectador ou seu leitor - como dois amantes.

...O que escrevo aqui não são simpels devaneios. Sou uma mulher do meu tempo, e dele quero dar testemunho do jeito que posso: soltando minhas fantasias ou escrevendo sobre dor, e perplexidade, contradição e grandeza;sobre doença e morte. lamentando a palavra na hora errada e o silêncio na hora em que teria sido melhor falar.

Escrevo continuamente sobre sermos responsáveis e inocente em relação ao que nos acontece.
Somos autores de boa parte de nossas escolhas e omissões, audácia ou acomodação, nossa esperança e fraternidade ou nossa desconfiaça. Sobretudo, devemos resolver como empregamos e saboreamos nosso tempo, que é afinal sempre o tempo presente.
Mas somos inocentes das fatalidades e dos acasos brutais que nos roubam amores, pessoas, saúde,emprego, segurança, ideais.
De modo que minha perspectiva do ser humano, de mim mesma,é tão contraditória quanto, instigantemente, somos.

Somos transição, somos processo. E isso nos perturba.

O fluxo de dias e anos,décadas, serve para crescer e acumular, não só perder e limitar. Dessa perspectiva nos tornaremos senhores, não servos. Pessoas não são pequenos animais atordoados que correm sem saber ao certo por quê.

Texto retirado do Livro Perdas & Ganhos/Lya Luft



Um comentário:

maybe disse...

I'm appreciate your writing skill.Please keep on working hard.^^