sexta-feira, 20 de março de 2009

Há quem passa...



Há quem passa...
E deixa só cicatrizes.

Há quem passa...
Semeando flores.

Há quem passa...
Banhando-nos em lágrimas.

Há quem passa...
Disposto a secá-las.

Há quem passa...
Torcendo por nossa vitória.

Há quem passa...
Aplaudindo nossos fracassos.

Há quem passa...
Ajudando-nos a levantar.

Há quem passa...
Fazendo-nos cair.

Há quem passa...
Como sombra.

Há quem passa...
Como luz.

Há quem passa...
Como pedra no caminho.

Há quem passa...
Como pedra de construção.

Há quem...
Para todo deslize vê uma falha irreparável.

Há quem...
Nos oferece o perdão.

Há quem...
Ignora nossos erros.

Há quem...
Nos ajuda a corrigir.

Há quem passa...
Rápido, veloz, despercebido.

Há quem...
Deixa marcas profundas.

Há quem...
Simplesmente passa.

Há, porém, quem...
Fica para sempre no nosso coração!

segunda-feira, 16 de março de 2009

Vida



Mário Quintana

Quando se vê, já são seis horas !
Quando se vê, já é sexta-feira ...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, passaram-se 50 anos !

Agora, é tarde demais para ser reprovado ....
Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade ,
eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando,
pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas...
Dessa forma eu digo :

Não deixe de fazer algo que gosta devido à falta
de tempo, a única falta que terá,
será desse tempo
que infelizmente não voltará mais.

domingo, 15 de março de 2009

Irena Sendler -“A mãe dos meninos do Holocausto”




Irena Sendler“A mãe dos meninos do Holocausto”
Tradução do Espanhol Manuel Franco del Castillo
Enquanto a figura de OSCAR SCHINDLER era aclamada por meio mundo, graças ao filme de Steven Spielberg, ganhador de 7 Oscars em 1993, narrando a vida desse industrial que evitou a morte de 1.000 judeus nos campos de concentração ,
IRENA SENDLER era uma heroina desconhecida fora da Polônia e apenas reconhecida no seu pais por alguns historiadores, já que os anos de obscurantismo comunista apagaram a sua façanha dos livros de historia oficiais.
Por outro lado, ela nunca contou a ninguém nada da sua vida durante aqueles anos.
Em 1999 a sua história começou a ser conhecida, graças a um grupo de alunos de um Instituto do Kansas-EUA, que realizou um trabalho sobre os heróis do Holocausto.
Na investigação deram com poucas referencias sobre Irena e só existia um dado surpreendente: tinha salvado a vida de 2.500 meninos.
Como e possível que só existisse essa informação sobre uma pessoa assim?
Mas a maior surpresa chegou quando após buscar o lugar da tumba de Irena, descobriram que não existia porque ela ainda vivia, e de fato ainda vive.
Hoje e uma anciã de 97 anos que reside num Asilo do centro de Varsóvia num quarto onde nunca faltam flores e cartões de agradecimento do mundo inteiro.
Quando a Alemanha invadiu o pais em 1939, Irena era enfermeira no Departamento de Bem-estar Social de Varsóvia, no qual cuidava das salas de jantar comunitárias da cidade.
Em 1942 os nazistas criaram um “gueto” em Varsóvia e Irena, horrorizada pelas condições como se vivia naquele lugar uniu-se ao “Conselho para Ajuda aos Judeus”.
Conseguiu identificações da oficina sanitária, sendo que uma das tarefas era a luta contra as doenças contagiosas.
Como os alemães invasores tinham medo de que se desencadeasse uma epidemia de tifo, aceitavam que os poloneses controlassem o lugar.
Logo entrou em contato com famílias oferecendo levar os filhos com ela para fora do Gueto.
Era terrível: tinha de convencer os pais de que lhe entregassem seus filhos e eles lhe perguntavam:
Pode prometer que meu filho viverá?
Como poderia prometer se nem sabia se poderia sair com eles do Gueto?
Mães e avós não queriam separar-se deles. IRENA as entendia perfeitamente: o momento da separação era o mais difícil.
Algumas vezes, quando Irena ou suas companheiras tornavam a visitar as famílias para tentar fazê-las mudar de idéia, todos tinham sido levados aos campos de extermínio.
Cada vez que isso acontecia, ela lutava com mais força para salvar a meninada.
E a única coisa certa era que os meninos morreriam se permanecessem ali.
Começou a tirá-los em ambulâncias como vitimas de tifo, mas logo se valeu de tudo o que estivesse ao seu alcance: cestos de lixo, caixas de ferramentas, carregamentos de mercadorias, sacos de batatas, ataúdes... Nas suas mãos, qualquer coisa se transformava numa via de escape.
Conseguiu recrutar ao menos uma pessoa de cada um dos dez centros do Departamento de Bem-estar Social.
Com a ajuda dessas pessoas elaborou centros de documentos falsos, com assinaturas falsificadas, dando identidade temporária aos meninos judeus.
Irena vivia os tempos da guerra pensando nos tempos da paz. Por isso não se cansava manter com vida esses meninos.
Queria que um dia pudessem recuperar seus verdadeiros nomes, sua identidade, suas histórias pessoais, suas famílias.
Foi quando inventou um arquivo que registrava os nomes dos meninos e as suas novas identidades.
Anotava os dados em pedaços pequenos de papel que enterrava, dentro de potes de conserva, debaixo de uma arvore de macas, no jardim do seu vizinho.
Guardou, sem que ninguém suspeitasse, o passado de 2500 meninos, até que os nazistas foram embora.
Um dia, os nazistas souberam das suas atividades.
Em 20 de Outubro de 1943, Irene foi detida pela Gestapo e levada a prisão de Pawiak onde foi brutalmente torturada.
Num colchão de palha da sua cela, encontrou uma estampa de Jesus Cristo. E ficou com ela até 1979, quando doou-a a João Paulo II.
Irena era a única que sabia os nomes e onde se encontravam as famílias que albergaram aos meninos judeus; suportou a tortura e se recusou a trair seus colaboradores ou a qualquer dos meninos ocultos.
Quebraram-lhe os pés e as pernas, alem de sofrer inúmeras torturas. Mas ninguém conseguiu romper a sua vontade.
Foi condenada a morte, mas sentença que nunca chegou a se cumprir porque a caminho do lugar da execução, o soldado a deixou escapar.
A resistência o tinha subornado porque não queriam que Irene morresse com o segredo da localização dos meninos.
Oficialmente ela constava nas listas dos executados. A partir de então, continuou trabalhando, mas com uma identidade falsa.
No final da guerra, ela mesmo desenterrou os vidros de conserva e fez uso das anotações para encontrar aos 2.500 meninos que colocou com famílias adotivas.
Ajuntou-as aos seus parentes espalhados pela Europa, mas a maioria tinha perdido as suas famílias nos campos de concentração nazistas.
Os meninos só a conheciam pelo apelido: JOLANTA.
Anos mais tarde, quando a sua historia saiu num jornal junto com fotos suas, da época, diversas pessoas começaram a chamá-la para dizer:
“ Lembro de seu rosto... sou um daqueles meninos, lhe devo a minha vida, meu futuro, e gostaria de vê-la!”
Seu pai, um medico que faleceu de tifo quando ela ainda era pequena, lhe fez memorizar o seguinte:
Irena tinha no seu quarto fotos com alguns daqueles meninos sobreviventes ou com filhos deles.


“AJUDE SEMPRE A QUEM ESTIVER SE AFOGANDO,SEM LEVAR EM CONTA A SUA RELIGIAO OU NACIONALIDADE.AJUDAR CADA DIA ALGUEM TEM DE SER UMA NECESSIDADE QUE SAIA DO CORACAO”



Irena viveu anos numa cadeira de rodas, por causa das lesões causadas pelas torturas sofridas pela Gestapo.
Não se considera uma heroína.
Nunca reivindicou crédito algum pelas suas ações.
“Poderia ter feito mais”, responde sempre.
“Este lamento me acompanhará ate o dia de minha morte!”

“ NAO SE PLANTAM SEMENTES DE COMIDA.
PLANTAM-SE SEMENTES DE BONDADE.
TRATEM DE FAZER UM CIRCULO DE BONDADE,
ESTE OS RODEARAO E FARAO CRESCER MAIS E MAIS ”
Irena Sendler
“ UMA MULHER EXTRAODINARIA E EXCEPCIONAL! “
Recebi por email.
Irena faleceu aos 98 anos.

sábado, 14 de março de 2009

A UM AUSENTE


Carlos Drummond de Andrade

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu,
enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste

sábado, 7 de março de 2009

Canção da mulher


Lya luft

Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos braços sem fazer perguntas demais.

Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta.

Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com minha solicitude, e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor.

Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso.

Que se eu faço uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim, porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes.

Que se estou apenas cansada o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais.

Que o outro sinta quanto me dói a idéia da perda, e ouse ficar comigo um pouco — em lugar de voltar logo à sua vida, não porque lá está a sua verdade mas talvez seu medo ou sua culpa.

Que se começo a chorar sem motivo depois de um dia daqueles, o outro não desconfie logo que é culpa dele, ou que não o amo mais.

Que se estou numa fase ruim o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarde nem dizendo “Olha que estou tendo muita paciência com você!”

Que se me entusiasmo por alguma coisa o outro não a diminua, nem me chame de ingênua, nem queira fechar essa porta necessária que se abre para mim, por mais tola que lhe pareça.

Que quando sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de mais pessoas, o outro não me exponha nem me ridicularize.

Que quando levanto de madrugada e ando pela casa, o outro não venha logo atrás de mim reclamando: “Mas que chateação essa sua mania, volta pra cama!”

Que se eu peço um segundo drinque no restaurante o outro não comente logo: “Pôxa, mais um?”

Que se eu eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura, o outro ainda assim me ache linda e me admire.

Que o outro — filho, amigo, amante, marido — não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso.

Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me esforço, não sou, nem devo ser, a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa — uma mulher.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Discurso de -Martin Luther King





Martin Luther King Jr. profere o seu famoso discurso "Eu tenho um sonho" em março de 1963 frente ao Memorial Lincoln em Washington, durante a chamada "marcha pelo emprego e pela liberdade".
"Eu estou contente em unir-me com vocês no dia que entrará para a história como a maior demonstração pela liberdade na história de nossa nação.

Cem anos atrás, um grande americano, na qual estamos sob sua simbólica sombra, assinou a Proclamação de Emancipação. Esse importante decreto veio como um grande farol de esperança para milhões de escravos negros que tinham murchados nas chamas da injustiça. Ele veio como uma alvorada para terminar a longa noite de seus cativeiros.
Mas cem anos depois, o Negro ainda não é livre.
Cem anos depois, a vida do Negro ainda é tristemente inválida pelas algemas da segregação e as cadeias de discriminação.
Cem anos depois, o Negro vive em uma ilha só de pobreza no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos depois, o Negro ainda adoece nos cantos da sociedade americana e se encontram exilados em sua própria terra. Assim, nós viemos aqui hoje para dramatizar sua vergonhosa condição.

De certo modo, nós viemos à capital de nossa nação para trocar um cheque. Quando os arquitetos de nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e a Declaração da Independência, eles estavam assinando uma nota promissória para a qual todo americano seria seu herdeiro. Esta nota era uma promessa que todos os homens, sim, os homens negros, como também os homens brancos, teriam garantidos os direitos inalienáveis de vida, liberdade e a busca da felicidade. Hoje é óbvio que aquela América não apresentou esta nota promissória. Em vez de honrar esta obrigação sagrada, a América deu para o povo negro um cheque sem fundo, um cheque que voltou marcado com "fundos insuficientes".

Mas nós nos recusamos a acreditar que o banco da justiça é falível. Nós nos recusamos a acreditar que há capitais insuficientes de oportunidade nesta nação. Assim nós viemos trocar este cheque, um cheque que nos dará o direito de reclamar as riquezas de liberdade e a segurança da justiça.

Nós também viemos para recordar à América dessa cruel urgência. Este não é o momento para descansar no luxo refrescante ou tomar o remédio tranqüilizante do gradualismo.
Agora é o tempo para transformar em realidade as promessas de democracia.
Agora é o tempo para subir do vale das trevas da segregação ao caminho iluminado pelo sol da justiça racial.
Agora é o tempo para erguer nossa nação das areias movediças da injustiça racial para a pedra sólida da fraternidade. Agora é o tempo para fazer da justiça uma realidade para todos os filhos de Deus.

Seria fatal para a nação negligenciar a urgência desse momento. Este verão sufocante do legítimo descontentamento dos Negros não passará até termos um renovador outono de liberdade e igualdade. Este ano de 1963 não é um fim, mas um começo. Esses que esperam que o Negro agora estará contente, terão um violento despertar se a nação votar aos negócios de sempre.

Mas há algo que eu tenho que dizer ao meu povo que se dirige ao portal que conduz ao palácio da justiça. No processo de conquistar nosso legítimo direito, nós não devemos ser culpados de ações de injustiças. Não vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo da xícara da amargura e do ódio. Nós sempre temos que conduzir nossa luta num alto nível de dignidade e disciplina. Nós não devemos permitir que nosso criativo protesto se degenere em violência física. Novamente e novamente nós temos que subir às majestosas alturas da reunião da força física com a força de alma. Nossa nova e maravilhosa combatividade mostrou à comunidade negra que não devemos ter uma desconfiança para com todas as pessoas brancas, para muitos de nossos irmãos brancos, como comprovamos pela presença deles aqui hoje, vieram entender que o destino deles é amarrado ao nosso destino. Eles vieram perceber que a liberdade deles é ligada indissoluvelmente a nossa liberdade. Nós não podemos caminhar só.

E como nós caminhamos, nós temos que fazer a promessa que nós sempre marcharemos à frente. Nós não podemos retroceder. Há esses que estão perguntando para os devotos dos direitos civis, "Quando vocês estarão satisfeitos?"

Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos horrores indizíveis da brutalidade policial. Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto nossos corpos, pesados com a fadiga da viagem, não poderem ter hospedagem nos motéis das estradas e os hotéis das cidades. Nós não estaremos satisfeitos enquanto um Negro não puder votar no Mississipi e um Negro em Nova Iorque acreditar que ele não tem motivo para votar. Não, não, nós não estamos satisfeitos e nós não estaremos satisfeitos até que a justiça e a retidão rolem abaixo como águas de uma poderosa correnteza.

Eu não esqueci que alguns de você vieram até aqui após grandes testes e sofrimentos. Alguns de você vieram recentemente de celas estreitas das prisões. Alguns de vocês vieram de áreas onde sua busca pela liberdade lhe deixaram marcas pelas tempestades das perseguições e pelos ventos de brutalidade policial. Você são o veteranos do sofrimento. Continuem trabalhando com a fé que sofrimento imerecido é redentor. Voltem para o Mississippi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para Louisiana, voltem para as ruas sujas e guetos de nossas cidades do norte, sabendo que de alguma maneira esta situação pode e será mudada. Não se deixe caiar no vale de desespero.

Eu digo a você hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã. Eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.

Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença - nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais.

Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos desdentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade.

Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça.

Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!

Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje!

Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta.

Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé nós poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, para ir encarcerar juntos, defender liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia livre. Este será o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo significado.

"Meu país, doce terra de liberdade, eu te canto.

Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos,

De qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!"

E se a América é uma grande nação, isto tem que se tornar verdadeiro.

E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha de New Hampshire.

Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas poderosas de Nova York.

Ouvirei o sino da liberdade nos engrandecidos Alleghenies da Pennsylvania.

Ouvirei o sino da liberdade nas montanhas cobertas de neve Rockies do Colorado.

Ouvirei o sino da liberdade nas ladeiras curvas da Califórnia.

Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia.

Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Vigilância do Tennessee.

Ouvirei o sino da liberdade em todas as colinas do Mississipi.

Em todas as montanhas, ouviu o sino da liberdade.

E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho spiritual negro:

"Livre afinal, livre afinal.

Agradeço ao Deus todo-poderoso, nós somos livres afinal."

terça-feira, 3 de março de 2009

A prisão de cada um



O psiquiatra Paulo Rebelato, em entrevista para a revista gaúcha Red 32, disse que o máximo de liberdade que o ser humano pode aspirar é escolher a prisão na qual quer viver.

Pode-se aceitar esta verdade com pessimismo ou otimismo, mas é impossível refutá-la. A liberdade é uma abstração.

Liberdade não é uma calça velha, azul e desbotada, e sim, nudez total, nenhum comportamento para vestir.

No entanto, a sociedade não nos deixa sair à rua sem um crachá de identificação pendurado no pescoço.

Diga-me qual é a sua tribo e eu lhe direi qual é a sua clausura.

São cativeiros bem mais agradáveis do que o Carandiru: podemos pegar sol, ler livros, receber amigos, comer bons pratos, ouvir música, ou seja, uma cadeia à moda Luis Estevão, só que temos que advogar em causa própria e hábeas corpus, nem pensar.

O casamento pode ser uma prisão.

E a maternidade, a pena máxima.

Um emprego que rende um gordo salário trancafia você, o impede de chutar o balde e arriscar novos vôos.

O mesmo se pode dizer de um cargo de chefia.

Tudo que lhe dá segurança ao mesmo tempo lhe escraviza.

Viver sem laços igualmente pode nos reter.

Uma vida mundana, sem dependentes para sustentar, o céu como limite: prisão também.

Você se condena a passar o resto da vida sem experimentar a delícia de uma vida amorosa estável, o conforto de um endereço certo e a imortalidade alcançada através de um filho.

Se nem a estabilidade e a instabilidade nos tornam livres, aceitemos que poder escolher a própria prisão já é, em si, uma vitória.

Nós é que decidimos quando seremos capturados e para onde seremos levados.

É uma opção consciente.

Não nos obrigaram a nada, não nos trancafiaram num sanatório ou num presídio real, entre quatro paredes.

Nosso crime é estar vivo e nossa sentença é branda, visto que outros, ao cometerem o mesmo crime que nós - nascer - foram trancafiados em lugares chamados analfabetismo, miséria e exclusão.

Brindemos: temos todos, cela especial.